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Um escritor, um poeta, um aventureiro,

Friday 3 July 2009

O que é Literatura?


Segundo o crítico e historiador literário José Veríssimo, várias são as acepções do termo literatura: conjunto da produção intelectual humana escrita; conjunto de obras especialmente literárias; conjunto (e este sentido, creio, nos velo da Alemanha) das obras sobre um dado assunto, ao que chamamos mais vernaculamente bibliografia de um assunto ou matéria; boas letras; e, além de outros derivados secundários um ramo especial daquela produção, uma variedade de Arte, a arte literária.

Mas por que à simples relação de fatos, à meia expressão de emoções por meio da escrita chamamos arte como à pintura, à escultura, à música?

Talvez porque essa relação ou essa expressão - e em literatura não há outra coisa - admitem ou exigem, para nos comoverem e Interessarem, artifícios de língua, de maneira de dizer de modos de contar ou exprimir, em suma de expedientes e processos estranhos à pura necessidade orgânica da manifestação dos nossos juízos e sentimentos. Para tal, bastaria somente a correção gramatical, isto é, a expressão verbal, segundo as leis lógicas ou naturais, se preferem, da linguagem, sem mais artifícios que os que lhe são inerentes.

A exação puramente lingüística na expressão do pensamento ou das sensações é talvez para a arte de escrever o que o desenho, no seu sentido mais restrito e especial, é para a pintura. Esse desenho, como aquela linguagem simplesmente exata, é, certo, já de si um artifício de representação, mas ainda não constitui uma arte. Por falta de outros artifícios que a completem e a tornem significativa, o que representa não nos logra ainda comover, que é o fim superior da arte. E se o simples desenho, na mão de verdadeiros artistas, o consegue, é que uma combinação especial de linhas, de tons, de sombras e claridades, produzindo uma expressão que quase vale a pintura, fez dele mais alguma coisa que pura representação por linhas combinadas segundo regras preestabelecidas.

São essas linhas especiais, esses tons variados, essas sombras e essa luz no desenho artístico, e as tintas, o claro-escuro, as gradações de cores, a harmonia geral de todos esses elementos na pintura, que fazem da pintura representação gráfica do desenho uma obra de arte. Assim na expressão escrita são artifícios correspondentes a esses que fazem da simples representação versal das coisas vistas ou sentidas uma arte - acaso a mais difícil de todas. Mas se isto basta para fazer da escrita, da literatura, no sentido etimológico, uma arte, um ramo de Arte, não satisfaz, cuido eu, para caracterizá-la toda.

Obras há de ciência (e tomo esta palavra no sentido geral de saber de conhecimentos de fatos, "know-ledger" em Inglês), tão bem escritas como as que melhor o sejam literatura. Darwin passa por um perfeito escritor na Inglaterra, assim, como Spencer. Imagino que os trabalhos de física e de biologia de Goethe não serão menos bem escritos que os seus romances. (Que é literatura? José Veríssimo).

Em O Que é a Literatura?, publicado em 1948, por Jean-Paul Sartre, a função e a natureza da Literatura encontram-se organizadas em três perguntas básicas:

• O que é escrever?
• Por que escrever?
• Para quem escreve?

O que é escrever?

Segundo Sartre, escrever é uma ação de desnudamento. O escritor revela ao escrever, revela o mundo, e em especial o Homem, aos outros homens, para que estes tomem, em face ao objetivo assim revelado, a sua inteira responsabilidade. Não basta ao escritor ter escrito certas coisas, é preciso ter escolhido escreve-las de um modo determinado, expondo seu mundo, com elementos estéticos, de criação literária.

Por que escrever?

O homem que escreve tem a consciência de revelar as coisas, os acontecimentos; de constituir o meio através do qual os fatos se manifestam e adquirem significado. Mesmo sabendo que, como escritor, pode detectar a realidade, não pode produzi-la; sem a sua presença, a realidade continuará existindo. Ao escrever, o escritor transfere para a obra uma certa realidade, tornando-se essencial a ela, que não existiria sem seu ato criador.

Para quem escreve?

Ao escrever, o escritor, segundo Sartre, deve solicitar um pacto com o leitor, que ele colabore em transformar o mundo, a sua realidade. O escritor dirige à liberdade de seus leitores. A Literatura é a tentativa do homem-escritor de criar uma realidade que possa ser exibida no mundo real e modificar as estruturas da sociedade humana.

Que é Análise Literária?

Em resumo é decomposição de um texto em suas partes constitutivas, para perceber o valor e o relacionamento que guardam entre si e para melhor compreender, interpretar e sentir a obra como um todo completo e significativo.

"A análise literária não se reduz, pois, ao comum comentário do texto, trabalho colateral ao mesmo texto, que não vai até à sua essência, nem à sua explicação, nem ao mero estudo da biografia do autor. Deve ir mais além, abrindo caminho para a crítica, para a história, que investigará sobre o autor e os antecedentes da obra; e para a teoria da literatura, que extrairá da obra os princípios suscetíveis de formulação estética". (Herbert Palhano, Língua e Literatura).

A análise de texto, ensina Nelly Novaes Coelho (0 Ensino da Literatura), é o esforço por descobrir-lhe a estrutura, seu movimento interior, o valor significativo de suas palavras e de seu tema, tendo em mira a unidade Intrínseca de todos esses elementos. Pressupõe o exame da estrutura do trecho e da linguagem literária (o vocabulário, o valor das categorias gramaticais usadas), o tipo de figuras predominantes (símiles, imagens, metáforas... ), o valor da sintaxe predominante (frase ampla ou breve, tipos de subordinação e coordenação, frases elípticas...), a natureza dos substantivos escolhidos; tempos ou modos de verbo, uso expressivo do artigo, da conjunção, dos advérbios, das preposições, etc., tudo em função do significado essencial do todo. Uma boa análise de texto, isto é, de fragmento só pode ser realizada quando o todo, a que ele pertence, tiver sido perfeitamente interpretado.

Um esquema-roteiro para a análise crítico-interpretativa de um romance, proposto pela referida professora é o seguinte:

a) Leitura lúdica para contato com a obra. Essa leitura é feita pelo aluno inicialmente.

b) Fixação da Impressão ou impressões mais vivas provocadas pela leitura. Essas impressões levarão à determinação do tema.

c) Fixação do tema ( idéia central, eixo nuclear da ação).

d) Leitura reflexiva norteada pelo tema, e pelas idéias principais pressentidas na obra. É durante esta segunda leitura da obra que se Inicia a análise propriamente dita, pois é o momento em que devem ser fixadas as características de cada elemento estrutural.

e) Anotação meticulosa de como os elementos constitutivos do romance foram trabalhados para Integrarem a estrutura global. Esta anotação deverá obedecer, mais ou menos, a um roteiro disciplinador:

1) Análise dos fatos que integram a ação (Enredo).

2) Análise dos traços característicos daqueles que vão viver a ação (Personagens).

3) Análise da ação e personagens situadas no meio-ambiente em que se movem (Espaço).

4) Análise do encadeamento da ação e personagens numa determinada seqüência temporal (Tempo).

5) Análise dos meios de expressão de que se vale o autor: narração, descrição, monólogos, intervenções do autor, gênero literário escolhido, foco narrativo, linguagem, interpolações, etc.

Para o Professor Massaud Moisés, ( Guia Prático de Análise Literária ) o núcleo da atenção do analista sempre reside no texto. Em suma: o texto é ponto de partida e ponto de chegada da análise literária.
José Veríssimo

Fonte: http://br.geocities.com/culturauniversalonline/o_que_literatura.htm


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