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Friday, 23 January 2009

Os Sonhos de Kay Rala Xanana Gusmão




Por: Agio Pereira



Neste debate parlamentar do OGE AF: 2009, um líder Timorense caracterizou a intervenção do Primeiro-Ministro para justificar a sua proposta orçamental como um ‘sonho’. Outros da mesma côr política repetem o mesmo estratagema.


E é verdade.


No seu poema ‘Mar Português – Possessio maris’, Fernando Pessoa assegura-nos que “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce’.


O IV Governo Constitucional sob a liderança do Primeiro-Ministro Kay Rala Xanana Gusmão, mais uma vez, propõe e defende o seu Orçamento Geral do Estado. Esta é a quarta proposta orçamental desde que assumiu as rédeas do Governo a 8 de Agosto de 2007. É o orçamento anual de 2009. Todas as propostas apresentadas pelo Primeiro-Ministro Xanana Gusmão ao Parlamento Nacional foram submetidas a análises profundas e debates exaustivos, esgotando as previsões limites impostas no Capítulo VII do Regimento do Parlamento Nacional, sob o título ‘Plano e Orçamento Geral do Estado’.


Kay Rala Xanana Gusmão lidera um Governo com apenas um ano e meio de experiência, com todos os membros, incluindo ele próprio, sem experiência prévia como Membro de Governo e 39 deputados oriundos do CNRT, PD, ASDT/PSD e UNDERTIM. A determinação, coragem, honestidade e humildade, são os atributos desta equipa de Xanana Gusmão, desde o dia em que assumiu a responsabilidade de governar.


Neste ano e meio, o Governo de Kay Rala Xanana Gusmão confrontou-se com uma realidade de instabilidade nacional, com cerca de cem mil cidadãos deslocados, uma instituição governamental frágil, uma administração estatal sem liderança, a credibilidade das forças da defesa e segurança afectadas pela crise e, sobretudo, uma nação que recentemente conseguiu conquistar a sua liberdade através de uma unidade nacional sem precedentes, mas já dividida e sem visão comum para prosseguir com o importante processo de consolidação da independência nacional.


Assim, Kay Rala Xanana Gusmão entrou no Palácio do Governo para implementar o seu moto ‘Libertada a Pátria, Libertemos o Povo’.


Uma mensagem inspirada para reorientar a Nação e para reconquistar a unidade de todos os Veteranos da guerra da libertação, especialmente os das Falintil – os seus homens, os que ele dirigiu durante a Luta de Libertação Nacional. E, através desta mensagem inspiradora, Xanana Gusmão inicia o processo de recuparação da confiança do povo nas instituições do Estado, incluindo a confiança no próprio Governo, confiança esta que é imprescendível garantia da legitimidade de qualquer governo democrático no mundo.


‘Libertada a Pátria, Libertemos o Povo’ substitui “Resistir é Vencer” e “A Luta Continua em Todas as Frentes”. Logo nos primeiros meses de governação, esta nova mensagem ecoou no espírito dos Veteranos, avivou-lhes na mente a certeza sobre o papel que deverão assumir agora nesta fase de pós-conflito e influenciar todo o processo de desenvolvimento nacional a longo prazo.



O Programa do IV Governo Constitucional, apresentado pelo Primeiro-Ministro Xanana Gusmão no Parlamento Nacional e endossado com um voto de confiança, foi reconhecido por muitos Veteranos como um programa do ‘mato’, o programa que, no mato, ‘quando não disparávamos contra o inimigo, juntávamo-nos para discutir o futuro’.


Os guerrilheiros também sonhavam com toda a dignidade de verdadeiros libertadores da nossa nação. E sonham; sonham em como será possível ainda na sua vida, ver um país onde todos os cidadãos não choram por se sentirem vítimas da independência, mas reclamam os seus direitos porque o país está preparado para lhes garantir condições de vida condignas e o governo ajudou-os a prepararem-se para dar a sua devida contribuição ao processo de desenvolvimento nacional.


Kay Rala Xanana Gusmão, também, é um homen que sempre sonhou com a independência e conseguiu torná-la realidade. Na era da independência, sonhou com a estabilidade nacional e conseguiu estabilizar o país; sonhou com umas FALINTIL-Forças da Defesa de Timor-Leste dignas e com umas forças policiais das PNTL mais unidas, mais motivadas e capazes, e conseguiu; sonhou com um país democrático multipartidarista, sem hegemonia de um partido, e conseguiu; sonhou com um Governo capaz de unir todas as componentes sociais e políticas, sem discriminação ideológica, e conseguiu; sonhou com um governo capaz de fazer uso dos recursos humanos existentes e outros mais a serem formados, e conseguiu; sonhou com um governo capaz de escutar a hierarquia da Igreja católica e de trabalhar em parcearia, sem prejuízo de todas as outras igrejas e conseguiu; sonhou com Veteranos da guerra a viverem os seus últimos anos com dignidade e esperança, e conseguiu; sonhou que os sacrifícios de todo um povo pela sua libertação nacional não resultaria em regnicídio, e conseguiu; sonhou com as viúvas e órfãos da guerra a terem condições de vida condignas, e conseguiu.


Os sonhos de Xanana permitiram um sucesso sem precedente na tentativa de resolver o atentado de 11 de Fevereiro de 2008. Numa democracia com instituições frágeis, dividida e desmoralizada, os sonhos de Xanana conseguiram assegurar a sobrevivência do nosso Estado jovem. Todos os passos dados para assegurar o Estado foram realizados de acordo com os quadros legais apropriados.


Poderá dizer-se que tudo, todas estas vitórias, são passos pequenos porque tudo quanto se edifica com tanto sacrifício poderá ser destruído amanhã, se as instituições do Estado o permitirem e se a liderança não estiver clara sobre os seus sonhos para o futuro do nosso povo.


Mas os sonhos de Xanana continuam. Passo-a-passo e, com certeza, os seus sonhos vão-se tornando realidade, porque não são apenas seus: são os sonhos de todo um Povo. Por isso, a longo prazo, será possível consolidar.


O Povo de Timor-Leste regozija-se por ter um líder sonhador, um homem cujos sonhos constituem a pedra filosofal que está a transformar um Estado de pós-conflito num Estado mais desenvolvido, com as instituições democráticas funcionais, com uma economia vigorizada e sustentável.Faz-me lembrar do pouco conhecido Bernardo Soares, um dos heterónimos do escritor Fernando Pessoa, que na sua obra ‘O Livro do Desassossego’, reitera que “O Sonhador é que é o homem de acção” porque “Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pretence ao mundo e a toda a gente”.


Os Novos Heróis
Xanana Gusmão sonha com os novos heróis. Para ele, novos heróis são todos os Timorenses que possuem ideias para edificar um Estado Democrático, saudável e multipartidário, soberano e desenvolvido; mas não basta só ter ideias, devem também deter a capacidade de transformarem as suas ideias em realidade, para o benefício do nosso povo.


Sonhando, o Governo liderado por Xanana Gusmão vai realizando; já enviou para o estrangeiro centenas de Timorenses para estudarem, para se formarem, aprenderem com outros povos e países, tudo quanto for útil e necessário para ajudar a construir o nosso país, um país edificado com o sangue e sacrifício de milhares de combatentes - homens e mulheres, jovens e crianças, mas que ainda com a necessidade premente de mais sacrifícios de todos os timorenses para o tornar viável, como um país que espelha a riquíssima história do nosso povo.


Xanana: o prisioneiro da liberdade
Quando Xanana Gusmão foi capturado a 22 de Novembro de 1992, o inimigo vangloriou-se de um acto heróico. Mas o grande discípulo de Xanana Gusmão, comandante guerilheiro Nino Konis Santana, tentando elevar o moral dos seus guerrilheiros disse: se não o matam, então hoje é o início do fim da ocupação, o início da libertação total da nossa querida e mil vezes martirizada Pátria.


E Konis tinha razão. Um guerrilherio de corpo e alma, sabia que o acto heróico dos generais indonésios não passava mais do que de um acto efémero.


Das montanhas do seu país para as celas da Indonésia, passando por Semarang, Cipinang e Salemba, Xanana percorreu uma vida de guerrilha e de prisioneiro, mas nunca deixou de liderar com a visão de liberdade e independência; aceitando sacrifícios superhumanos, anos de prisioneiro da Indonésia, dos quais seis meses incomunicável, Xanana nunca deixou de sonhar. Os dias, horas, minutos e segundos nas masmorras do inimigo, Xanana transformou-os em momentos de ouro, não só para sonhar mais e melhor, mas também para enriquecer os seus sonhos, de conceber um país onde não haverá apenas uma lagoa de água com verduras cercando-a, mas sim, todo um país cheio de verduras, um povo saudável, feliz e próspero.


Na consciência de Xanana Gusmão pairam duas contradições. Uma, a de ter quebrado a promessa aos seus guerrilheiros de que após a libertação não iria ocupar nenhum posto; a outra, é a consciência do dever, dever de servir, dever de não deixar cair o que os seus guerrilherios alcançaram, muitos ele viu tombar, deram a vida para tornar realidade, uma realidade que assimila os sonhos de todo um povo.


O desejo de poder ser um espectador de uma nova etapa da luta pela soberania do seu povo, a da edificação de um Estado de direito democrático, cuja feitura a ser levado a cabo pelos doutores, não tem sido possível, porque a realidade política nacional impõe que Xanana deva continuar a remar neste barco ciclópico da esperança das crianças Timorenses de, um dia, poderem vir a ter condições de vida mais adequadas, uma vida mais feliz que a dos seus antepassados, digna de um povo e país moderno, inserido num mundo de globalização.


A promessa de não ocupar nenhum cargo político foi transformada pela realidade contemporânea e convertida em ‘Libertada a Pátria, Libertemos o Povo’.


Xanana continua a ser um prisioneiro, mas hoje é um prisioneiro da liberdade. As novas celas não são de parede e metal, mas é a sua própria consciência.O sonho é, afinal, um comboio que viaja num processo político da própria libertação nacional!Este comboio não possui estações nem faz paragens para Xanana poder sair.


Podemos, sabemos e devemos reformar
Os seus sonhos são a força deste processo; sonhos reflectidos na sua vida de guerrilheiro e em tudo o que tem escrito; na forma como ele tem liderado este povo e país, na forma como lidera este Governo e contribui para todas as instituições do Estado, rumo ao futuro. Para este orçamento, Xanana sonha em consolidar uma administração pública livre da interferência política partidária, estabelecer processos e mecanismos para combater a corrupção, melhorar a remuneração e reconhecer o mérito e a gestão do rendimento dos funcionários públicos e reformar o sistema orçamental e financeiro do Estado.


Interrogado sobre porquê necessita de mais um vice primeiro-ministro, Xanana responde com toda a honestidade: porque a máquina administrativa tem que ser corrigida e porque gestão, contabildade e finanças constitutem um problema transversal a todas as instituições do Estado; porque a burocracia é pesada e deve ser aliviada para acelerar o processo da reforma da gestão do Estado. Para Xanana Gusmão existe ainda a necessidade de ver como as orientações ministeriais poderão melhorar a execução da acção governativa e, porque a máquina administrativa é ainda a força electromotriz da Economia: podemos, sabemos e devemos reformar.


Talvez António Gedeão tivesse feito um bom trabalho se dissesse ao líder Timorense que minimiza os sonhos de Kay Rala Xanana Gusmão:Tu não sabes, nem sonhas,que o sonho comanda a vida,que sempre que um homem sonhao mundo pula e avançacomo bola coloridaentre as mãos de uma criança.



FIM!



* Este artigo foi publicado pelo Jornal Nacional Diario na sua edicao de hoje (23/01/2009) e Forum Haksesuk

* Imagem de Celso Oliveira

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